terça-feira, agosto 23, 2011

O lado podre da Moda

Inicialmente peço desculpas por ter passado tanto tempo sem postar nada, mas como poucos sabem, sou arquiteta e recém chegada em Salvador. Por isso mesmo estou tentando alcançar meu espaço nessa cidade, e nos últimos dias precisei participar de vários eventos na área.
No meu retorno venho falar sobre dois lados "podres" da moda, que faz tempo que tenho vontade de comentar: o uso de pele e o de mão-de-obra escrava. Esse último muito comentado na semana passada, inclusive em um comentário anônimo, em que recebi a sugestão de falar sobre isso. Aliás, não precisava ser anônimo!

PELE:
Todo inverno a polêmica recomeça! Recentemente a Arezzo foi obrigada a recolher peças em raposa, após grande reclamação no twitter, e a Iódice recolheu seus produtos em pele natural antes de virar alvo de críticas. Cris Barros usou coelho, e Reinaldo Lourenço, chinchila.
Eu acredito que sofrer críticas severas na internet não é punição suficiente, e a situação deveria ser observada como CRIME AMBIENTAL. Exagero? Não! Como a vida de ser-vivo pode ser sacrificada por mera vaidade de PESSOAS ESNOBES?
Só entre nós, pele engorda, mofa, ataca a rinite alérgica, e compõe perfeitamente o esteriótipo da perua emergente, que conquistou muitas cifras na conta bancária, mas nenhuma inteligência a mais.
Certo, o estilistas são fantásticos e criam detalhes mais atuais e urbanos, mas o que custa usar sintético? Só para agregar valor? Seu nome e talento incontestável não seriam suficientes?
Reinaldo Lourenço em matéria recente para a Revista Estilo, afirmou que a discursão só faria sentido se se estendesse ao couro, mas ele se esquece que o couro seria "o resto" do boi, o que sobrou depois da sua função principal de alimentação, e ter dado outros produtos de grande importância econômica. Ninguém costuma comer raposa! Ou chinchila!
Não defendo o uso do couro, e também acho um absurdo diante dos sintéticos fiéis que temos no mercado. Até porque a nossa forma de consumo atual é rápida! Uma roupa tem que ter qualidade, mas não precisa durar tanto, pois na economia nada sustentável de hoje daqui a pouco se cansa dela, a moda muda, e se compra uma coisa nova (não vou entrar nesse assunto longo, isso é para outro post). 
Mais uma informação a meu respeito: não como carne, nem frango, só como pouca quantidade de peixe por questão de saúde, e evito a compra de peças que contenham couro natural, justamente por uma questão ambiental. Sou louca por animais, apaixonada por cachorros, tenho uma vira-lata adotada, que mora na casa dos meus pais, uma pata é quebrada e atrofiada, falta um dedo em outra, o rabo foi cortado, e é coisa mais carinhosa que já vi na minha vida! Só de falar nela aqui me sinto tão bem! Mas também muita saudade! Agora dá para entender porque esse assunto mexe tanto comigo!

Campanhas contra o uso de pele:

"Aqui está o que sobrou do seu casaco de pele."

Peta e Danity Kane: "Preferimos ir nuas a usar pele"

Peta e Kloe Kardashian: "Pele? Prefiro ir nua!"

Peta e Eva Mendes: "Pele? Prefiro ir nua!"

Ser defensor dos animais, vegetariano, ou ecologicamente correto é tão chique, e tão mais chique que usar pele, que muitas celebridades aderiram a causa e costumam usar isso como marketing pessoal.

USO DE MÃO-DE-OBRA ESCRAVA
Semana passada o Ministério Público declarou estar investigando a empresa ZARA por uso de mão-de-obra escrava na produção de suas roupas, após ter descoberto em São Paulo oficinas subcontratadas em que trabalhadores estrangeiros ilegais (bolivianos e peruanos) viviam em más condições de higiene e segurança, trabalhavam até 16 horas por dia, precisavam de permissão para sair, e recebiam apenas R$ 2,00 por peça confeccionada. Em uma das oficinas foi observado também caso de trabalho infantil.
A ZARA foi indiciada por 52 infrações às leis laborais brasileiras, e apesar de negar conhecimento da situação, assumiu total responsabilidade e vai pagar compensações financeiras aos trabalhadores. Além da ZARA, a Broksfield, a Gregory, a Billabong e outras duas marcas também foram indiciadas, mesmo mais de 50% dos produtos encontrados serem destinados a empresa espanhola.
Em 03 de dezembro de 2007, o programa Report da TV italiana denunciou as grifes Prada, Gucci, Dolce & Gabanna, Fendi e Ferragamo por uso de mão-de-obra escrava, e apenas a Prada foi à televisão se defender, afirmando que seus inspetores não são policiais e não tem acesso ilimitado às áreas e a todos os documentos.
A norte-americana Nike também já foi autuada por motivos semelhantes, e também por trabalho infantil. Depois de ser acusada como exploradora do terceiro mundo, cancelou seu contrato com a fábrica no Camboja em que foi encontrada a ilegalidade.
Fiquei muito chocada com o caso ZARA por acontecer em território brasileiro, país cuja estrutura social não permite mais a escravidão, apesar de todos os problemas ainda enfrentados. Não que em outros países, como os asiáticos, seja aceitável esse tipo de abuso, mas a idéia que se tem é que o Brasil é socialmente mais desenvolvido que os mesmos, e de que o governo brasileiro não ignora esses casos.
Nenhuma das empresas pode alegar falta de conhecimento, pois quando elas fecham contrato com um fornecedor que oferece um preço bem abaixo da concorrência, se imagina a razão deste custo. A sensação que tenho como consumidora, apesar de não usar nenhuma das grifes mencionadas, com excessão da Nike e de uma camisa que ganhei da ZARA, é a de que fui lesada! Quando pago um valor alto numa peça acredito que uma porcentagem significante é devido aos custos de produção, mas diante de remunerações de R$ 2,00, vejo que quase tudo vai para a "caixinha" da empresa!
Apesar de tudo, não vou ser hipócrita e cruxificar quem ainda compra essas marcas... basta olhar as minhas coisas, o meu guarda-roupa, para ver o tanto de "made in china" que há! E isso vai além do meu apartamento, e chega na casa de quem lê esse blog também (você! Hehehe!). Não sou a favor, mas como fugir disso? A relação comercial entre Brasil e China é tão grande que os economistas devem acender velas todos os dias para a China não quebrar e levar o Brasil junto. De roupas a eletrodomésticos o país asiático é nosso fornecedor, e também praticante do chamado "dumping social". Para quem não sabe, "dumping social" é uma concorrência internacional desleal, a base da exploração da mão-de-obra, e que prejudica os outros países concorrentes.
Logo, como posso julgar? O que posso fazer é usar desse meio de informação para alertar a mim mesma e às outras pessoas a reduzirem o possível a compra de produtos chineses (e afins), e principalmente das marcas acusadas. Pedir, mesmo sem ser "ouvida" (lida), que as autoridades intensifiquem as investigações, sejam rigorosos diante das punições, e torcer para o Brasil aumentar sua capacidade de produção, e incentivar a compra de manufaturados brasileiros com incentivos fiscais e semelhantes.

Imagens da oficina produtora das peças ZARA: (chique, não?!)






Muito obrigada por ler todo esse texto, e peço desculpas por talvez não ter escrito o que algumas pessoas queriam ler a respeito da mão-de-obra escrava na moda, mas não dá para fugir da realidade e levantar uma "falsa bandeira". A situação é triste, como o uso de peles verdadeiras, mas o principal é ter conhecimento para comprar de maneira mais consciente. Preferir sempre "made in brazil", confecções locais, empresas responsáveis, e até artesanatos. E nunca, mas nunca mesmo, ser ridiculamente vaidoso ao ponto de matar um animal para "aparecer"!

Beijos,
Camila Farias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário