Divã de Moda: Grande Pretinho Básico

Com tantos cortes, materiais e muita criatividade, "pretinho básico" é apenas o nome dado para um negro "cocktail dress", e o termo "básico" não faz justiça aos mais estilosos e sofisticados modelos.

Quando Chanel criou o primeiro "pretinho básico", em 1926, com comprimento um pouco abaixo do joelho, cintura baixa, e mangas longas e ajustadas, foi alvo de críticas masculinas, mas a simplificação da estilista mais uma vez caiu no gosto feminino. Tanto que a Vogue americana afirmou que esse deveria ser um tipo de uniforme usado pelas mulheres, surgindo assim e idéia de padronização da moda. "Um Ford com assinatura de Chanel", afirmava a edição.

Dizem que Gabrielle criou o esse tipo de vestido com a trágica morte de seu amante Boy Capel, em 1919. Na realidade não foi por luto, e sim por influência do movimento "Art déco", surgido em 1925 durante a grande Exposição das Artes Decorativas de Paris, o qual tinha a proposta do enegrecido como tendência. Várias artistas agora se rendiam à sobriedade e a simplicidade do preto, e não foi diferente com Chanel.

Esboço de Chanel.

Em 1947, depois que a 2ª Guerra Mundial havia terminado, Christian Dior desfilava o seu "New Look", e surpreendia pela proposta luxuosa, porém descomplicada, enquanto todos esperavam tempos de humildade na moda. Dentro da coleção apresentada, um vestido preto de cintura bem marcada e saia godê fortalecia o grande curinga do vestuário. Talvez foi a forma que ele tenha encontrado de trazer de volta o glamour perdido com a pobreza da guerra, mas sem chocar com cores e estampas um mundo ainda de luto.

O pretinho básico do "New Look".

Apesar dos sucessos anteriores, foi com outro estilista francês que o pretinho básico se tornou clássico obrigatório do guarda-roupa feminino: Givenchy. A admiração mútua entre Audrey Hepburn e Hubert de Givenchy era grande, tanto que o mesmo recebeu a tarefa de criar o figurino do novo filme da atriz, o "Bonequinha de Luxo". Além do icônico longo preto apresentado na primeira cena, Holly, a protagonista representada por Audrey, passa boa parte do filme com um vestido de mesma cor, mas com comprimento no joelho, bainha em plumas e decote canoa. Dessa maneira estava imortalizado de vez o pretinho básico.

Audrey e Givenchy em "Bonequinha de Luxo".

Como falei no início do texto, com tantas criações interessantes o básico ficou para trás, ou talvez nunca tenha existido. Muitas vezes nem se recorre mais ao "black dress" diante de outras cores e estampas, mas é verdade que com ele a elegância está praticamente garantida, errar fica mais difícil, e nenhum guarda-roupa deveria ficar sem o maior dos clássicos femininos.

Selecionei algumas imagens de "little black dress" desfilados recentemente: